quarta-feira, 18 de julho de 2012

Freguesia de Pala, Mortágua

 Foto: Olhares Fotografia on-line

A freguesia da Pala, uma das maiores do concelho de Mortágua, encontra-se na parte norte do concelho, embora a sua grande extensão a transporte quase até à sua parte central. Para norte, confina com o distrito de Aveiro e com o concelho vizinho de Tondela. Dentro de Mortágua, é delimitada a ocidente por Espinho, a leste por Sobral e a sul por Vale de Remígio. É constituída pelos lugares de Carvalhal, Eirigo, Laceiras, Linhar de Pala, Macieira,Monte de Lobos, Moutinhal, Ortigosa, Pala, Palinha, Palheiros de Cima, Palheiros de Baixo, Paredes, Sardoal, Sernadas, Tarrastal e Vila Pouca.

O povoamento da área em que a freguesia da Pala se integra remonta pelo menos à época romana. Desse período é o sítio arqueológico do Moitinhal, constituído por um conjunto de vestígios que fazem supor que ali terá existido uma olaria. Os vestígios cerâmicos encontram-se num terreno onde se cultiva a vinha e a oliveira, apresentando essencialmente dois núcleos bem definidos. No passado, terão existido três fornos de origem romana no local, que terão sido destruídos algures no tempo. O Menir da Pedra de Moira, com dois metros e meio de altura e dez toneladas de peso, apresenta uma cronologia indeterminada. Encontra-se no sítio dos Penedos Encarreirados, lugar de Linhar de Pala, um dos mais altos da freguesia (768 metros). Segundo a lenda, este penhasco foi transportado, à cabeça de outra serra, por uma moura que, entretanto, ia fiando na roca. Ao longo de grande parte da sua história, a freguesia da Pala esteve sob a jurisdição eclesiástica do Convento de Santa Cruz de Coimbra. Só depois do fim definitivo do Absolutismo é que transitou para a posse do concelho de Mortágua, obtendo – ao mesmo tempo – a autonomia administrativa por que tanto os seus habitantes tinham lutado. Recuando ao período medieval cristão, a Pala começou por estar na posse de um nobre cristão, o conde Ovieco Garcia. Um nome que voltamos a encontrar na Crónica de Jaime I de Aragão e na documentação medieval da Catedral de S. Salvador de Ávila, situada entre Madrid e Salamanca e considerada a primeira catedral gótica de Espanha. Não será, ao que parece, o mesmo Ovieco Garcia, que – no caso da Pala – deixou em testamento uma parte das suas terras ao Mosteiro de Lorvão. Em 1810, durante a terceira Invasão Francesa, a Pala sofreu os efeitos da fúria devastadora das tropas de Massena. A Igreja Matriz foi a primeira vítima. Invadida e saqueada, salvou-se no entanto o maior bem, a cruz processional em prata que ainda hoje é usada no Domingo de Páscoa. Antes de fugir, o pároco, avisadamente, tinha-a escondido dentro do forro. Segundo a lenda, que o povo vai contando de geração em geração, ao passarem em Macieira, localidade próxima da igreja, as tropas francesas roubaram um boi, que esfolaram e prepararam para comer dentro do lagar de azeite ali existente. Os soldados não viram que um popular, apelidado de Sant'Ana, os fechou dentro do lagar, matando-os de seguida com as armas que se encontravam no exterior. Em 1943, no lugar de Monte de Lobos, um grupo de populares revoltou-se contra a distribuição pouco equitativa dos bens alimentares, que estavam a ser racionados por causa da II Guerra Mundial. Cerca de vinte pessoas bloquearam a passagem de carros de bois, carregados de milho, que se dirigiam de Santa Cristina para o celeiro da vila. Um popular conhecido por “Moina“ chegou mesmo a ser detido pela G. N. Republicana. Em termos de património edificado, merece destaque a Igreja Paroquial da Pala, consagrada a S. Gens. É um templo de planta longitudinal, com torre sineira adossada ao alçado lateral direito. As fachadas são circunscritas por pilastras com pináculos e remate em cornija. No que diz respeito à fachada principal, é rasgada por portal de verga recta, encimado por friso e cornija. Por cima, uma janela de perfil rectilíneo. O remate da fachada é em empena, com cruz latina no vértice. Quanto à torre sineira, tem três registos, os dois primeiros cegos e o terceiro rasgado por sineiras em arco de volta perfeita. Remate em cornija e pináculos. Cobertura em coruchéu bolboso. A importância do culto de S. Gens na história da freguesia é significativa. Aliás, a freguesia ter-se-á chamado noutros tempos S. Gens. A sua festa realiza-se anualmente no mês de Agosto. S. Gens é o padroeiro dos agricultores, evocado contra a seca. No Moitinhal, nota para um Parque de Lazer que faz as delícias de todos aqueles que procuram momentos de descanso na Pala. Um local de grande aprazibilidade, rodeado por frondosas árvores e equipado com campo de jogos, parque infantil e parque de merendas. Nasceu no lugar de Laceiras desta freguesia, em 10 de Março de 1877, o escritor e político Tomás da Fonseca. Grande activista da causa republicana, participou em 1903, em Mortágua, numa campanha pelo fim do regime. Com o 5 de Outubro de 1910, foi convidado para Chefe de Gabinete de Teófilo Braga. Foi deputado à Assembleia da República e, em 1916, senador pelo distrito de Viseu. Preso em 1918 por se opor à Ditadura de Sidónio Pais, voltaria a sê-lo em 1928, já durante a Ditadura Militar que iria culminar com a chegada de Salazar ao poder. Pertenceu ao MUD, à Maçonaria e lutou com todas as suas forças contra a Ditadura, a ponto de voltar a ser preso, em 1947, desta vez pela PIDE, por criticar a existência do campo de concentração do Tarrafal em Cabo Verde. Na literatura, participou na fundação do Círculo de Leitura em Viseu. A Arqueologia e belas artes, a doutrina democrática e a polémica religiosa eram os seus temas de eleição. Escreveu inúmeros romances, muitos deles tendo como cenário a terra que o viu nascer. Foi o caso de «A Filha de Labão», que «traz a marca inconfundível da terra, dessa terra da Beira camponesa», como se pode ler na contra-capa de uma das edições. Morreu em Lisboa a 12 de Fevereiro de 1968 com 90 anos. Em 1984, recebeu a título póstumo a Ordem da Liberdade.

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