segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tomás da Fonseca (1877 - 1968)

     Grande escritor, político, mestre e pensador da 1ª República PortuguesaTomás da Fonseca, natural de Laceiras, freguesia de Pala, concelho de Mortágua, nasceu a 10/03/1877 e faleceu a 12/02/1968. Era filho de Adelino José Tomás e de Rosa Maria da Conceição e pai de Dr. António José Branquinho da Fonseca e Eng.º Tomás Branquinho da Fonseca.
     Tomás da Fonseca foi uma personalidade de destaque no meio intelectual e político da sua época. Espírito brilhante e tribuno exímio, desde muito cedo se evidenciou na defesa das ideias liberais e depois do regime republicano. Teve um papel preponderante na geração que fez a República, pelo seu feitio combativo. Era firme e intransigente na defesa das suas ideias, sempre orientado na procura da verdade e da justiça e dono de uma coragem moral que desafiou todas as vicissitudes.
     Foi um lutador pela integração social do Homem e defensor intransigente dos direitos daqueles que labutam duramente.
     Tomás da Fonseca foi um homem de acção, organizador e animador de inúmeras associações de carácter cultural, social, económico e político, sendo uma figura de grande relevo na campanha intensa e acidentada que precedeu a proclamação da República Portuguesa em 1910. Como deputado marcou sempre presença nos grandes actos dos primeiros tempos do novo regime.
     Em 1910 foi chefe de gabinete do primeiro Presidente do Ministério Republicano, Dr. Teófilo Braga e em 1916 eleito senador pelo distrito de Viseu.
     Em 1918, por se opor à ditadura de Sidónio Pais, é preso durante dois meses. Volta a ser preso em 30 de Novembro de 1928, em Coimbra, por ter participado no movimento revolucionário de 20 de Julho. Pertenceu ao Movimento da Unidade Democrática e à Maçonaria. Feroz opositor do regime ditatorial, foi perseguido pelas suas ideias políticas e os seus livros alvo de censura e proibição. Por várias ocasiões a PIDE deslocou-se à sua residência e às gráficas onde os livros eram impressos para os confiscar. Os seus movimentos eram constantemente vigiados, incluindo das pessoas e amigos, mortaguenses e não só, que com ele mais privavam.
     Denunciou as condições prisionais do regime, o que lhe valeu a prisão em 8 de Maio de 1947, por ter protestado contra a existência do Campo de Concentração do Tarrafal, nas ilhas de Cabo Verde. Uma semana antes, no dia 2 de Maio, tinham sido já presos outros dois mortaguenses, acusados também de serem opositores ao regime: Dr. Victor Hugo Marques Miragaia, advogado e Deodato Medeiros Ramos, empregado comercial.
      A título de curiosidade, tal era a sua fama de opositor ao regime que até no dia do seu funeral, realizado para o cemitério de Mortágua, a Policia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) enviou agentes com a missão de anotar (discretamente) as pessoas e discursos de homenagem dos que ali compareceram ao último adeus.
     Era um anti-clerical convicto e assumido, tendo publicado vários livros críticos sobre a Igreja e a Religião. Ficou famosa a sua polémica com João de Deus Ramos sobre o ensino religioso nas escolas.
Como escritor literário, Tomás da Fonseca escreveu dezenas de volumes onde se contam livros de versos, arqueologia e belas artes, a doutrina democrática e a polémica religiosa.
     Tomás da Fonseca não só marcou uma posição firme de grande escritor de ideias, como foi também um professor de raros recursos pedagógicos. A sua ligação ao ensino foi um acto contínuo, sendo vogal do Conselho Superior de Instrução Pública, director das Escolas Normais de Lisboa, da Universidade Livre de Coimbra, presidente do Conselho de Arte e Arqueologia da mesma cidade.
     Como deputado do Parlamento até 1917, colaborou na reforma do Ensino Primário e Normal. Em 1922 publicou o livro “História da Civilização”, que foi adoptado como livro escolar, a pedido do Ministro da Instrução Pública”. Professor sempre atento e preocupado na formação, realizou inúmeras visitas de estudo a escolas, museus e bibliotecas em países como França, Bélgica e Inglaterra. Foi ainda um dos impulsionadores da construção do Jardim-Escola João de Deus, de Mortágua.
     Em 1941, participou em Mortágua na fundação do Círculo de Leitura.
Um grupo de habitantes do concelho ligados aos meios democráticos e republicanos decidem fundar o Círculo de Leitura, uma espécie de biblioteca pública que se estabeleceu na Casa Lobo. O Círculo de Leitura foi criado com o objectivo de manter viva a chama da leitura após o desaparecimento das bibliotecas das Escolas Livres da Irmânia e de Mortágua, com a instalação da ditadura e a consolidação do Estado Novo. Promovia o culto do livro e o gosto da leitura, manifestando preocupação pela elevação do nível cultural dos seus associados, perto de 200.
     Os livros eram comprados com o dinheiro resultante do pagamento das quotas e ofertas. O Círculo de Leitura também patrocinava palestras, que se realizavam no Teatro Club. Tomás da Fonseca proferiu ali várias conferências, uma delas em homenagem a Antero de Quental. O Círculo de Leitura manteve-se até 1945.
     No Jornalismo destacou-se com artigos ou opiniões publicadas em jornais como: “Mundo”, “Pátria”, “Vanguarda”, “Voz Pública”, “Norte”, “República”, “Povo”, “Batalha”, “Lanterna (Brasil)”, “Espanha Nova”, “Alma Nacional”, “Diabo”, “Prometeu”, “Arquivo Democrático”, de que foi director, “Defesa da Beira” e na revista “Livre Pensamento”.
      O seu nome está perpetuado na toponímia de Mortágua (Rua Tomás da Fonseca), onde está instalada a Biblioteca Municipal. [...] Possui junto à Câmara Municipal um busto escultórico em sua memória.
     A título póstumo foi-lhe concedida a Ordem da Liberdade (Diário da República, 2ª Série, 12 de Dezembro de 1984).

Santuario de São Salvador do Mundo

     O santuário de São Salvador do Mundo é ex-libris na paisagem mortaguense.
     Situado no Cabeço do Mundo, sobre as alicerces do castro, é um local de romaria e miradouro, de onde se tem uma bela vista.

Lenda do Juiz de Fora


     D. Afonso IV determinou, por lei, que a justiça concelhia não fosse atribuída aos juízes da terra, mas a um juiz de nome -acção régia.
     Em Mortágua havia queixas contra um moço da iniciativa de D. Gil Fernandes, senhor de Carvalho e Cercosa, a quem não era aplicada justiça por parte dos juízes por parte dos juízes do concelho. Para atender as reclamações foi nomeado um magistrado de Coimbra. Este não se eximiu a fazer cumprir a Lei: mandou prender o criado do fidalgo ao pelourinho, de modo a ser vergastado.
     Quando D. Gil tomou conhecimento do facto, esperou o Juiz no seu regresso a Coimbra. Agrediu-o, cortou-lhe as orelhas e o nariz. Temendo a fúria perseguidora do rei, fugiu para Castela. Em 1340 participou, ao lado dos castelhanos, na batalha do Salado, contra os muçulmanos. Considerando a sua participação nesse evento, o rei D. Afonso IV perdoou-lhe a atitude e deixou-o regressar à pátria.     

   Outra versão da lenda:
 
     Um juiz de fora foi indicado para exercer justiça em Mortágua. No entanto abusou dos poderes que possuía. A população não gostou.
     Um dia tocou o sino a rebate. O povo aprisionou-o, conduziu-o para além dos limites concelhios. Parece que para o lado oposto do rio Cris. Nesse local foi assassinado com recurso a alfaias agrícolas: forquilhas, sachos, etc.
     O soberano tentou indagar da responsabilidade no sentido de haver punição. O funcionário régio encarregue da inquirição ia perguntando aos moradores de Mortágua que havia cometido o crime. O povo, à pergunta: "quem matou o juiz?", respondia: "Foi Mortágua". Esta resposta espalhou-se pelo país, daí ainda hoje se perguntar a alguém que nesceu neste município: "quem matou o juiz?". Como nem sempre a questão foi pacífica, podiam chover impropérios e agressões.
  
Retirado do site do: RFVA

Construção da Barragem da Aguieira